Verbetes da narrativa

Os verbetes abaixo são o resumo de tópicos existente no Dicionário de Teoria da Narrativa, de Carlos Reis e Ana Cristina Lopes (Ática, 1988), que usamos como referência em nossas incursos teóricas na pesquisa.

AUTOR
O termo autor designa uma entidade de projeção muito ampla, envolvendo aspectos e problemas exteriores à teoria da narrativa e atinentes, de um modo geral, à problemática da criação literária, das funções sociais da literatura etc. (...) É a entidade materialmente responsável pelo texto narrativo, sujeito de uma atividade literária a partir da qual se configura um universo diegético com suas personagens, ações, coordenadas temporais etc.

DIEGESE
É o universo do significado, o "mundo possível" que enquadra, valida e confere integibilidade à história.

ESTRATÉGIA NARRATIVA
Atitude ou conjunto de atitudes organizativas prevendo determinadas operações, recorrendo a instrumentos adequados e opções táticas precisas, com o intuito de se atingir objetivos previamente estabelecidos.

FICCIONALIDADE
Pode ser concebida em termos de intencionalidade, ou seja, da adotação de uma postura de "fingimento" por parte do autor, que por sua vez se estabelece a partir de um acordo tácito entre autor e leitor. Importante observar que o estatudo de ficção não exige um corte radical e irreversível com o mundo real, podendo, portanto, o texto ficcional se referir ao mundo real sem deixar de ser ficcional. A realidade ficcional deve ser entendida, dessa forma, como pseudo-realidade. A ficionalidade se estabelece pela construção de mundos possíveis, ou seja, o mundo cuja existência é meramente textual. Cada texto narrativo cria um determinado universo de referências, onde se inscrevem as personagens, os seus atributos e suas esferas de ação.

HISTÓRIA
Refere-se ao plano do conteúdo na estrutura narrativa; à seqüência de ações, relações entre personagens, a localização dos eventos num determinasdo contexto espacial. O discurso, em contraposição, se personifica por meio da linguagem utilizada, imagens, gestos etc.

NARRAÇÃO
Narração pode ser entendida como processo de enunciação, como procedimento representativo dominado pelo expresso relato de eventos e de complitos que configuram o desenvolvimento de uma ação, o que obviamente só se compreende em função de um movimento temporal que transmita à narrativa a dinâmica mencionada. Ato e processo de produção de discurso narrativo, cujo responsável por este processo é o narrador.

NARRADOR
Narrador não é o mesmo que autor. O narrador é o autor textual, entidade fictícia que, no cenário da ficcção, enuncia o discurso. O narrador é uma invenção do autor.

NARRADOR AUTODIEGÉTICO
Entidade responsável por uma situação ou atitude narrativa específica; aquela em que o narrador da história relata as suas próprias experiências como personagem central da história.

NARRADOR HETERODIEGÉTICO
Trata-se da situação em que o narrador relata uma história à qual é estranho, uma vez que não integra nem integrou, como personagem, o universo diegético em questão.

NARRADOR HOMODIEGÉTICO
É a entidade que veicula informações advindas de sua própria experiência diegética; quer isso dizer que, tendo vivido a história como personagem, o narrador retirou daí as informações de que carece para construir seu relato, assim se distinguindo do narrador autodiegético.

NARRATÁRIO
A existência do narratário depende fundamentalmente de que o narrador dirija-se a ele de forma expressa ou tácita. Ou seja, é a quem o narrador se dirige. Funciona como elemento por meio do qual se estabelece uma ligação entre narrador e leitor, ajuda a precisar o enquadramento da narração, serve para caracterizar o narrador, destaca certos temas, faz avançar a intriga, torna-se porta-voz da moral da história. É o narratário quem determina a estratégia narrativa do autor.

NARRATIVA
A narrativa pode ser entendida de muitas formas: como enunciado, como conjunto de conteúdos representados por estes enunciados, como ato de relatar ou como modo (lírico, narrativo e drama, por exemplo). As dominantes que caracterizam o processo narrativo são três:

a) distanciamento - assumido por um narrador em relação àquilo que narra

b) alteridade - mais ou menos radical entre o sujeito que narra e o objeto do relato

c) exteriorização - responsável não apenas pela caracterização e descrição de um universo autônomo (personagens, espaços, eventos etc.), mas também pela tentativa não raro assumida pelo narrador de adotar uma atitude neutra perante este universo.

O processo narrativo instaura uma dinâmica temporal imposta, de um lado, pela história relatada, enquanto que, de outro, pelo discurso inerente a essa história.