quarta-feira, 10 de março de 2010

Por que jornalismo diversional?

Na reunião de hoje, a segunda de nosso grupo de pesquisa, realizamos uma discussão muito interessante a respeito da categoria que utilizaríamos para observar nosso objetivo de pesquisa, ou seja, como se estabelece as intersecções entre o jornalismo e a literatura.

A opção recaiu sobre a categoria jornalismo diversional, nos moldes propostos inicialmente por José Marques de Melo (1985).

Ou seja, àquela forma de jornalismo que engloba textos que, "(...) fincados no real, procuram dar uma aparência romanesca aos fatos e personagens captados pelo repórter" (1985, p.22).

Por esta perspectiva, a natureza diversional desse tipo de jornalismo está no resgate "(...) das formas literárias de expressão": uso de recursos como flashbacks, digressões, diálogos, aprofundamentos psicológicos etc. para estabelecer suas narrativas.

Dada a profusão de nomenclaturas que surgiram após a categorização de Marques de Melo, e em consonância com o que sugere o Dicionário de Comunicação (2009), utilizaremos, na pesquisa, jornalismo diversional como sinônimo de a) jornalismo literário, b) literatura de realidade (ou não ficcional), c) jornalismo em profundidade, ou, ainda, d) jornalismo de autor.

Mas no que, afinal, o jornalismo diversional se diferencia, por exemplo, do interpretativo, visto por Luiz Beltrão (1980) como sinônimo de "reportagem em profundidade" e considerando que ambos não têm amarras estilísticas?

Basicamente porque, neste, o que está em jogo é a realidade contextual, sendo que o objeto tem valor de notícia e há uma preocupação clara em fazer o leitor compreender/interpretar o que está posto no texto (SEIXAS, 2009, p. 66).

Sua intenção, e estrutura, estão voltadas no sentido de ajudar o leitor na compreensão do assunto em questão, enquanto que, no diversional, esta preocupação não existe.

Deveremos ter cuidado, no entanto, e ainda que nossa opção analítica sejam os textos diversionais em livro, de não vincular as categorias discursivas ao suporte em que eventualmente se encontram, mesmo sabendo que o dispositivo influi na forma como o discurso se estabelece.

Ou seja, achar que diversional é sinônimo de livro e interpretativo, de revista.

Basicamente porque reduziria a importância de nosso objeto.

Falaremos disso mais adiante.

Fontes utilizadas neste post:

BELTRÃO, Luiz. Jornalismo opinativo. Porto Alegre: Sulina, Ari, 1980.
MARCONDES FILHO, Ciro. Dicionário de Comunicação. São Paulo: Paulus, 2009.
MARQUES DE MELO, José. A opinião no jornalismo brasileiro. Vozes: Petrópolis, 1985
SEIXAS, Lia. Redefinindo os gêneros jornalísticos: proposta de novos critérios de classificação. Disponível em: [http://www.livroslabcom.ubi.pt/pdfs/seixas-classificacao-2009.pdf] Acesso em: 5 de fevereiro de 2009.

2 comentários:

  1. Puxa, Demétrio, que discussão interessante. Através do twitter cheguei aqui.
    Lendo, fiquei lembrando de um "jornal popular" daqui de Salvador, o Correio* (http://correio24horas.globo.com/pageflip/), que diz fazer new journalism. Mais de 50% das matérias de capa são sobre violência. Imagina que, pelo tipo de narrativa, o texto das matérias poderiam estar no que se chama de "jornalismo diversional". Os textos entreteem pelo modo de organização, mas será que "divertem"? Huummm, creio que entreter e divertir precisam melhor diferenciação nas teorias do jornalismo...Porque a palavra "entretenimento" pode ser tantas coisas e não só o que a tradução do "infotainment" tem colocado luzes.
    Ai, desculpa a intromissão, a mensagem grande...é que gostei da discussão.
    Deixa eu parar aqui, se não vou falando mais...
    Ah, só mais uma coisa, dois autores defendem o "gênero de autor": Sanchez; Lopez Pan e a Sônia Parrat.
    Bom trabalho pra vcs!
    ;)
    abs,
    Lia

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  2. Oi, Lia! Sua visita nos deixa muito felizes, com certeza: cenha sempre que tiver vontade. E concordo, desde já, com aa necessidade de fecharmos mais estes conceitos, para o bem do jornalismo e da compreensão dele como instância de conhecimento; sobretudo, para que possamos nos entender mais e melhor. Também valeu o toque quanto ao Lopes Pan e a Sônia Parrat! Grande abraço. D.

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